Domingo de Pentecostes
[19 de maio de
2013]
A força do alto perdoa e
anima
[Jo
20, 19-23]

A
festa de Pentecostes tem sua história na comunidade israelita. Inicialmente era
o agradecimento a Deus pelos frutos da terra. Uma festa agrícola. Posteriormente
foi associada à entrega da Lei no Sinai, tornado-se assim a festa da Aliança de
Deus com seu povo.
No
cristianismo, Pentecostes celebra a manifestação pública da Igreja. Embora,
segundo João, o Espírito Santo seja dado no dia da Páscoa, na Ressurreição, a
comunidade lucana a coloca cinquenta dias depois da Páscoa, para evocar e
celebrar a manifestação pública da Igreja. Em forma de “línguas de fogo” para
dizer do testemunho e da palavra dos discípulos de Jesus manifestando a ação de
Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. No Sinai foi entregue a Lei de Moisés,
escrita em tábuas de pedra. Aqui celebramos a Lei derramada nos nossos
corações.
O
evangelho deste domingo mostra a comunidade dos discípulos acuada, medrosa. Os
discípulos não tinham iniciativa nem coragem de anunciar a experiência que
haviam feito de Jesus. Aquele em quem haviam depositado a esperança
frustrou-lhes as expectativas: morrera como um condenado, na cruz. Porém, o
“Vento” do alto, aquele Sopro vital encheu-os de novo ânimo, de coragem. Começam
então a anunciar, com todo ardor e entusiasmo, aquela realidade que haviam
experimentado: a vida de Jesus e a vida em Jesus é o caminho para se ter uma
vida justa, alegre e mais feliz.
“Soprou
sobre eles e disse...”. Esta passagem nos faz lembrar aquele sopro vital que o
Criador fez penetrar no homem formado da argila: “Ele insuflou nas suas narinas
o hálito da vida, e o homem se tornou um ser vivo” [Gn 2,7]. Ou mesmo aquele
Sopro de vida de que fala o profeta Ezequiel: “Porei meu sopro em vós para que
vivais” [Ez 37,14]. Jesus comunica a nova vida que ele veio trazer do Pai: o
Espírito Santificador que nos inspira, nos ilumina, nos fortalece para darmos
testemunho da ressurreição do Senhor.
É
interessante notar que o Espírito Santo não desceu somente sobre os “Onze”. Ele
veio sobre todos que estavam no Cenáculo. Ali havia muitas outras pessoas além
dos Apóstolos. O Espírito de Jesus penetra no coração daquelas pessoas e lhes dá
nova vida, novo vigor, novo sentido de vida. Sem o Espírito Santo a vida fica
sem sentido, vazia, deslocada daquele centro vital para o qual o Pai nos criou.
Desfocada, a vida começa a perder o sentido e o pecado encontra guarida dentro
de nós. É a destruição da vida da pessoa. A alegria dá lugar à tristeza, a paz
cede ao ódio, a partilha perde terreno para o egoísmo, o perdão é substituído
pelo desejo de vingança, a fraternidade é suplantada pela dominação, a fé perde
para a dúvida. Quando Jesus sopra sobre os discípulos e lhes dá o Espírito Santo
com o poder de perdoar os pecados, ele quer mostrar que a missão da Igreja, pela
força do Espírito Santo, deve ser a de tirar o pecado do mundo.
O
pecado, segundo Antônio Pagola, é a “força de gravidade” que nos impede de ir a
Deus. Muito mais do que culpa, é peso, escravidão. Mais do que falar de perdão,
é preciso, pois, falar de libertação. Por isso chamamos a Jesus de Salvador.
Nota-se, pois, uma vez mais, que o Evangelho não é um ligeiro verniz que se
passa no ser humano, mas é tomá-lo a partir do seu ser mais profundo, assim como
é, e tornar possível sua volta para Deus. Este é o primeiro fruto do Espírito de
Jesus: a libertação. Este é o Espírito, o Espírito do Filho, o Espírito dos
filhos, aquele que nos resgata da escravidão da terra e nos abre o horizonte
luminoso de Filhos.
Esse
Espírito traz e atualiza a novidade de Cristo: “Sem o Espírito Santo, Deus está
distante; o Cristo permanece no passado; o evangelho, uma letra morta; a Igreja,
uma simples organização; a autoridade, um poder; a missão, uma propaganda; o
culto, um arcaísmo; e a ação moral, uma ação de escravos. Mas no Espírito Santo
o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo ressuscitado está
presente, o evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão
trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e
antecipação, a ação humana se deifica” [Atenágoras I, Patriarca de
Constantinopla].
Todos
nós sentimos dificuldades. Todos sentimos a fraqueza na fé, a fragilidade da
existência. Por vezes o mal parece prevalecer. O bem fica apagado. Fazemos o
bem, nos empenhamos na construção de um mundo melhor, mas parece que nossa luta
é em vão. Então peçamos ao Espírito Santo que, como aos discípulos e discípulas
no Cenáculo, nos encha de seu amor, de sua luz, de sua força: Vem Espírito
Santo e perdoa nosso pecado, fortalece nossa pequenez, dá-nos tua força contra o
mal. Não nos deixes desanimar, desistir de caminharmos na direção do bem. Mais
do que fazer o bem, ajuda-nos a ser bons, justos, solidários, fraternos.
Enche-nos de tua bondade, de tua sabedoria para reproduzirmos em nossa vida as
ações de Jesus que passou pelo mundo “fazendo o bem”.
Pe. Aureliano de Moura Lima,
SDN
MANHUMIRIM,
MG
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