
A intervenção de Deus na história, na pessoa de
Jesus de Nazaré, introduz a novidade de que a salvação é para todos. Jerusalém é
condenada porque traiu sua missão. Em vez de ser sinal da salvação de Deus para
todos os povos, fechou-se no seu particularismo, apodrecendo sem gerar vida. A
fidelidade de Deus é traída pela infidelidade de um povo escolhido. Sendo a
salvação o encontro de duas fidelidades, Jerusalém não corresponde. Jesus, o
Filho Amado, permanece fiel e garante a salvação a todos.
Embora esteja garantida a salvação, permanece,
porém a incompletude enquanto depende da resposta de cada ser humano. É uma
promessa que espera ser completada. É um dom que supõe conquista. A fidelidade
de cada um deve encontrar eco na fidelidade de Jesus ao Pai.
Deus salva o indivíduo na comunidade. A Igreja
tem, pois, a missão de quebrar as barreiras que separam a humanidade. A divisão,
a ganância, o egoísmo, o preconceito, o fechamento são atitudes pecaminosas que
bloqueiam a salvação.
As obras suntuosas, as pessoas famosas, as
beldades, a fama, o sucesso passarão. Só não passará o amor de Deus testemunhado
pela firmeza e fidelidade daqueles que são apaixonados pelo Reino e têm a
coragem de entregar a vida. “Quem procurar ganhar sua vida, vai perdê-la, e quem
a perder vai conservá-la” [Lc 17,33].
A propósito da segunda leitura de hoje: [2Ts
3,10] “Quem não quer trabalhar também não há de comer”, é bom entender que Paulo
diz para o cristão não ficar parado. É preciso agir, fazer alguma coisa, não
esperar que as coisas caiam do céu. Um mundo novo é construído a partir do
empenho de cada um. Quem pensa que basta ir à igreja para se salvar está traindo
o projeto de Jesus. É preciso “trabalhar” a salvação e a libertação de si
próprio, do mundo e da história. Cada um dentro de suas possibilidades e dons. É
preciso ser firme até o fim!
Gostaria ainda de chamar a atenção do leitor para
duas realidades assinaladas pelo evangelho de hoje:
A primeira é a chamada de Jesus para que o
discípulo não se deixe enganar. Já notaram que a enganação e a mentira correm às
soltas em nosso meio? É gente vendendo “gato por lebre”, é gente enganando o
povo em nome de Deus, é gente prometendo mundos e fundos para ganhar a eleição,
é gente vendendo a pílula da felicidade. Enfim, há quem venda e há quem compre;
há quem engane e há os que se deixam enganar. Há carência de reflexão, de
ponderação, de objetivos claros e definidos. Num momento de crise de sentido, há
muita religiosidade: os espertalhões e charlatões se aproveitam das buscas e
desesperos do ser humano para “vender seu peixe” e enganar os incautos e
ingênuos. Cuidado!
A segunda realidade apontada por Jesus é a
necessidade da perseverança: “É pela perseverança que mantereis vossas vidas”. O
termo grego que traduz perseverança pode traduzir também paciência. É
imprescindível a paciência para se conseguir a preservação da vida e se alcançar
a salvação. Paciência não é um mero gesto de suportar uma palavra que desagrade
ou aguentar um desaforo. Mas é uma atitude de vida que nos coloca diante de Deus
e da vida com serenidade, fidelidade, alegria mesmo em meio a sofrimentos,
perseguição e incompreensão. Quero dizer que é uma virtude que precisamos
cultivar, pois sem ela nossa salvação corre risco. Os encantos enganosos da
vida, a fama, o sucesso, as honrarias, o dinheiro, nada disso nos poderá tirar
do centro vital no qual o Senhor nos colocou com sua morte e ressurreição.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN
MANHUMIRIM, MG
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