Serviço que brota da fé
[Lc 17,5-10]

O
contexto imediatamente anterior do evangelho de hoje mostra Jesus ensinando a
necessidade do perdão: “Caso teu irmão peque contra ti sete vezes por dia e sete
vezes retornar dizendo ‘estou arrependido’, tu lhe perdoarás” [Lc
17,4]. Parece que perdoar não era algo fácil para os discípulos, como não o é
para nós. Por isso pedem: “Aumenta-nos a fé”. O perdão é algo intrinsecamente
unido à fé. Perdoamos porque acreditamos num Deus que ama e perdoa. Perdoamos
porque sem perdão não há convivência, alegria, vida.
Penso
que vale a pena recordar aqui a crise de fé de que por vezes somos assaltados.
Sobretudo quando situações difíceis, dolorosas nos acometem; então perguntamos:
“Onde está Deus em meio a tudo isso?” Por essas crises passaram também profetas
e santos. Crise de fé não é ateísmo. Normalmente as crises de fé vêm
acompanhadas de crises existenciais, ou seja, dificuldades no relacionamento
familiar, no sentido de vida, fases da própria idade, situações de doença etc.
Como diz Leonardo Boff: “Crise é oportunidade de crescimento”. Se vivenciarmos
bem nossas crises de fé, certamente sairemos mais amadurecidos, mais firmes,
mais comprometidos. Para isso é preciso pedir: “Senhor, aumentai a minha
fé”.
Crer
é dar-se a Deus. É ancorar-se somente n’Ele. Confiar no seu amor apesar de todas
as aparências contrárias, porque sua palavra não nos pode enganar. A fé é
diferente de religião embora esteja relacionada com ela. Também não é uma adesão
intelectual a uma doutrina ou série de verdades abstratas, mas é adesão a uma
Pessoa, a Deus, que nos propõe seu amor em Cristo morto e ressuscitado. É dom de
Deus e tarefa humana para tornar-se a alma de nossa vida cotidiana e da
comunidade cristã.
O
discípulo que assume a fé em Jesus Cristo como comprometimento pessoal não fica
contabilizando o bem que faz [como os politiqueiros que querem sempre tirar
vantagem de tudo], mas coloca-se sempre como alguém que fez o que devia ter
feito.
Só
uma fé madura, acrisolada [passada pelo crisol/crise] nos dará coragem de
assumir o avental de servidores, nos desvestindo do manto de senhores. Então
poderemos transportar para o mar as montanhas do egoísmo, do consumismo, do
preconceito, da maldade. Isso mediante uma fé informada pela caridade [Cf.
Gl 5,6].
Colaboradores de
Deus
Dois
elementos precisam ser considerados neste relato evangélico da liturgia deste
domingo: a fé e o serviço.
Quando
os discípulos pedem a Jesus “aumenta a nossa fé”, não devem pensar em termos de
quantidade, pois a fé não se quantifica. O que devem pedir a Jesus é o
reavivamento da fé. Agora, não mais como judeus observantes, mas como discípulos
de Jesus, precisam de uma fé renovada, madura, comprometida com a nova proposta
de Reino trazida por Jesus. Sem uma fé reavivada, refeita, madura, não dariam
conta de realizar o seguimento de Jesus “até Jerusalém”. A fé agora não é aquela
de acreditar num Deus de conveniência, mas uma fé que desperte a
responsabilidade com o Reino de Deus e a possibilidade de amar como Jesus amou:
“até o fim”. É essa a fé que transporta “montanhas”.
O
segundo elemento é o do serviço generoso. Certamente, na comunidade dos
primeiros discípulos estavam surgindo aqueles que buscavam os primeiros lugares,
que brigavam pelo poder, que reclamavam reconhecimento e aplausos pelo que
faziam, que se beneficiavam política e economicamente dos lugares de comando e
coordenação. E Jesus vai dizer que, no Reino trazido por ele, essas buscas
precisam ser desfeitas, invertidas. O que conta para o discípulo do Reino é ser
colaborador de Deus. Nada mais. Ninguém deve ficar a cata de aplausos, de
reconhecimento social, de sucesso. Deve, igualmente, colocar no coração que cada
um que se está aí para colaborar com a obra da salvação, independente de
resultados.
Pe. Aureliano de Moura Lima,
SDN
MANHUMIRIM,
MG
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