18º Domingo do Tempo Comum [04 de agosto de 2013]
COBIÇA: FONTE DE TODOS OS
MALES
[Lc 12,13-21]
“A vida do homem não consiste na abundância de bens”. Essa palavra de
Jesus deve nos acompanhar sempre.
Alguém
poderia perguntar: Por que Jesus não resolveu aquela situação que lhe foi
apresentada pelo irmão que se sentia lesado na herança? A resposta é que Jesus
não veio resolver as coisas pelo poder. Ele não veio para se meter em confusão
de distribuição de herança. Ele veio para mostrar que os bens precisam ser
repartidos, distribuídos. A consciência é que precisa ser bem formada para que
as pessoas e o Estado se sensibilizem diante do sofrimento alheio e reparta o
pão com o necessitado.
O relato
desse domingo nos convida a uma reflexão profunda, diria mesmo, a um exame de
consciência sobre o modo como lidamos com os bens materiais; como lidamos com
“concupiscência dos olhos” [1Jo 2,16].
“Não cobiçarás...”
[Ex 20,17]. É o Décimo Mandamento da Lei de Deus. Penso que o Evangelho de hoje
nos permite fazer uma visita aos Mandamentos da Lei de Deus, particularmente ao
último. Eles andam tão esquecidos, ultimamente. Será que a Aliança de Deus é
também temporária, descartável? Parece que não! Deus estabeleceu com seu Povo
uma Aliança eterna, para sempre. E Ele permanece fiel!
O
Catecismo da Igreja Católica nos lembra de que “o apetite sensível nos faz
desejar as coisas agradáveis que não temos”. Enquanto não nos conduzem à
injustiça, tudo bem. O problema é quando esse desejo se converte em avidez que é
o desejo de apropriação desmedida dos bens terrenos. Ou quando se converte em
cupidez que é uma paixão imoderada pelas riquezas e pelo poder. Então o ser
humano se desvia da relação filial com Deus.
Esse
Mandamento quer ajudar a lidar com os bens e posses sem apegos desmedidos, sem
acúmulos, sem idolatrar dinheiro e coisas. O sábio já dizia: “O avaro jamais se
farta de dinheiro” [Eclo 5,9]. E o Apóstolo exortava: “A raiz de todos os males
é, de fato, o amor ao dinheiro” [1Tm 6,10].
Um mal
muito presente em nosso meio, fruto da cobiça, é a inveja. É um vício que dá
origem a outros. “É a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo
imoderado de sua apropriação” [CIC, 2539]. Dela nasce o ódio, a maledicência, a
calúnia, a alegria diante da desgraça do outro, o desprazer diante de sua
prosperidade. Só uma vida vivida em Deus, num exercício de conversão cotidiana,
de um esforço em viver na humildade, na simplicidade, no desapego é que
possibilitará o combate a esse mal terrível.
O que nos
pode ajudar no caminho para não cairmos na idolatria do dinheiro é buscarmos uma
vida de partilha. É o caminho da felicidade verdadeira. E a Igreja orienta:
Todos os fiéis de Cristo “devem dirigir retamente seus afetos, para que, por
causa do uso das coisas mundanas e do apego às riquezas contra o espírito da
pobreza evangélica, não sejam impedidos na busca da caridade perfeita” [Lumen
Gentium, 42].
É muito
oportuno lembrar aquelas palavras de Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí estará
o teu coração” [Mt, 6,21]. Qual é mesmo o nosso verdadeiro tesouro? Que
importância damos aos bens que contam realmente? Como temos administrado o
dinheiro, os bens? Como lidamos com o “bolsa família”, com o “seguro
desemprego”, com o empréstimo de dinheiro, com a compra e venda de mercadoria,
com o cumprimento dos horários de trabalho, com o cuidado com os bens que não
são meus, com aqueles que também são meus, com a relação de justiça com
funcionários etc, etc?
Lembramos
hoje a vocação ao ministério ordenado: diácono, padre e bispo. Seria bom
fazermos, hoje, uma prece pelo nosso pároco, pelos padres que conhecemos, por
aqueles que nos marcaram na fé, por aqueles padres que passam por dificuldades
tribulações, por aqueles que vivem em situação de risco, de violência, de
miséria. E vamos pedir ao Pai que envia padres profetas e santos para sua
Igreja.
“NÃO PODEIS SERVIR A DEUS E AO
DINHEIRO”
Recorde
um pouquinho a Campanha da Fraternidade de 2010. O uso das coisas deste mundo
deve ser de modo que nos torne “ricos para Deus”. O sentido da vida não está na
posse de muitos bens, mas na administração deles de tal forma que sejam
colocados a serviço de todos. Em outras palavras: os bens deste mundo foram
criados para todos. É o princípio da “destinação universal dos bens”.
Vale a
pena, nesta oportunidade, recordar o perigo da chamada ‘teologia da
prosperidade’. O que é isso? Uma interpretação de textos aleatórios da Bíblia
para defender a ideia de que Deus dá riqueza material a quem ele julga justo. E
que a miséria é fruto da falta de fé e da consequente maldição da parte de Deus.
Ora o que
diz Jesus? “A vida do homem não é assegurada pela abundância de bens”. Não há
dinheiro que garanta uma vida terrena imperecível, sem sofrimentos, sem morte.
Jesus quer que vamos além. A vida que ele veio trazer é “plena”. É a vida junto
dele que já tem começo aqui. Uma vida vivida no coração amoroso do Pai é a
grande bênção que ninguém pode tirar.
O
entendimento do progresso material, do enriquecimento como bênção e da pobreza
como abandono de Deus leva a pessoa à prática da idolatria, assumindo os bens
materiais como a coisa mais importante que tem, reduzindo sua relação com Deus a
um nível puramente comercial e interesseiro. Afasta-se totalmente do ensinamento
de Jesus que doou toda a sua vida e pediu que seguíssemos seu exemplo. Do
contrário, do ponto de vista material, Jesus teria sido o homem mais rico e
poderoso, que já existira, pois foi sempre fiel ao Pai. O erro aqui está na
interpretação egoísta e interesseira.
É fácil
perceber o que é mesmo fundamental na vida humana quando nos deparamos com
situações-limite. Aquela pessoa que está muito mal, prestes a morrer. O que
parece mais importante para ela? O dinheiro? Seus bens materiais? Até mesmo a
família e amigos entendem que há algo aí mais importante do que sua dimensão
econômica ou social. Percebe-se aí como é fundamental sua dimensão espiritual,
sua relação com Deus Pai criador. Só essa realidade fundante é que lhe poderá
dar sustento nesse momento. O que lhe dá conforto agora não são os bens que
adquiriu, os negócios feitos com lucro, mas tudo o que ela fez e se tornou
amor.
“Insensato! Essa noite morrerás e para quem ficará o que acumulaste?”A grande
bênção de Deus é a nossa capacidade de compartilhar com os irmãos, de nos
compadecermos, de doarmos um pouco de nós, de nos fazermos dom. O resto é
idolatria e egoísmo geradores de infelicidade para si e para os
outros.
Pe. Aureliano de Moura Lima,
SDN
MANHUMIRIM,
MG
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