sábado, 10 de agosto de 2013

Onde está o seu tesouro?

19º Domingo do Tempo Comum [11 de agosto de 2013]
Onde está o seu tesouro?
[Lc 12,32-48]
Jesus-rezando1.No evangelho do domingo passado acompanhamos Jesus orientando seus discípulos a não depositarem sua confiança nos bens terrenos: “Tomai cuidado com todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” [Lc 12,15]. Essa admoestação de Jesus pode ter provocado nos discípulos alguma defecção, desistência, medo de assumir o projeto que o Mestre apresenta. Daí a palavra do evangelho de hoje: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. Parece que Jesus não contava com grande multidão de discípulos. Ele conta com poucos, porém destemidos, generosos, capazes de se desprenderem dos bens e posses e lutarem por um mundo mais fraterno e igualitário. Pequeno grupo que tenha como único tesouro o Reino. Um pequeno rebanho, porém que se constitui em grande sinal do Reino.
2.“Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. O desprendimento dos bens em favor dos pobres traz ao discípulo a verdadeira liberdade. Note-se que não se trata pura e simplesmente de desprezo das coisas materiais. Isso seria uma maneira doentia, desumana de se relacionar com os bens da criação, dons de Deus. Mas Jesus propõe um jeito novo: vender e dar em esmola. É a partilha evangélica. É o não acúmulo, o sair de si em favor dos necessitados. Essa é a perspectiva cristã. Se nosso tesouro é o Reino de Deus, então nosso coração estará em paz, livre, empenhado naquelas realidades que não passam.
3.“Que vossos rins estejam cingidos e vossas lâmpadas acesas”. Jesus alerta para a necessidade de se estar atento, pronto. “Rins cingidos” significa estar preparado para agir. Aliás, o Papa Francisco lembrava que a Igreja precisa sair, ir para as ruas, encontrar-se com os pobres, com os necessitados, com os sofredores: "Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se converte em uma ONG. A Igreja não pode ser uma ONG". E “lâmpadas acesas” significa cuidar da fé. Esta é a luz que ilumina o caminho. Se nos descuidamos do óleo da caridade, das boas obras, da oração fervorosa, do cultivo de uma mística profunda, do cuidado com os pobres e sofredores nossa fé pode esmorecer e nossa lâmpada se apagar. Então nosso caminho ficará em trevas e também aqueles que precisam de nossa luz.
4.“Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar”. É preciso estar despertos. É muito fácil viver dormindo. É só fazer o que todo mundo faz. É deixar a vida correr ao sabor do vento: pra onde ventar a gente vai. É viver insensível ao sofrimento alheio. Quando se vive só para trabalhar, ganhar dinheiro, cumprir algumas normas, comer, dormir, se divertir. Isso é viver dormindo. As coisas mais importantes, fundamentais da vida passam longe. Teologicamente, “dormir” significa viver uma religião de tradição. É não querer perceber o agir de Deus na história, nas pessoas. É ser indiferente, despreocupado com o que realmente conta. Talvez se possam fazer muitas coisas, mas se permanece na superficialidade dessas coisas. Isso é viver dormindo. E Jesus admoesta que é preciso viver acordado.
5.“A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. São palavras que precisam nos acompanhar a vida toda. Quanto mais recebemos de Deus, maior nossa responsabilidade de repartir. Se Deus me deu muito, devo também dar muito. O Pai do céu não é injusto com ninguém: aqueles que receberam mais, precisam criar consciência de que devem distribuir com quem não tem. A eucaristia nos ensina que a verdadeira riqueza é aquela que se divide com os outros.
Neste domingo em que comemoramos o Dia dos Pais, queremos lembrar essa figura representativa do Pai do céu. Oxalá os pais assumissem, de verdade, sua missão, para além da manutenção de casa e comida. Pai é aquele que educa, que forma, que se faz presente, que ampara, que dá carinho, que oferece segurança, que aponta e ajuda a trilhar caminhos de vida. Parabéns papais! Deem uma olhadinha na paternidade assumida por São José.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

MANHUMIRIM, MG

domingo, 4 de agosto de 2013

Cobiça é a fonte de todos os males.



18º Domingo do Tempo Comum [04 de agosto de 2013]

COBIÇA: FONTE DE TODOS OS MALES
[Lc 12,13-21]

xviii-domingo-comum“A vida do homem não consiste na abundância de bens”. Essa palavra de Jesus deve nos acompanhar sempre.
            Alguém poderia perguntar: Por que Jesus não resolveu aquela situação que lhe foi apresentada pelo irmão que se sentia lesado na herança? A resposta é que Jesus não veio resolver as coisas pelo poder. Ele não veio para se meter em confusão de distribuição de herança. Ele veio para mostrar que os bens precisam ser repartidos, distribuídos. A consciência é que precisa ser bem formada para que as pessoas e o Estado se sensibilizem diante do sofrimento alheio e reparta o pão com o necessitado.
            O relato desse domingo nos convida a uma reflexão profunda, diria mesmo, a um exame de consciência sobre o modo como lidamos com os bens materiais; como lidamos com “concupiscência dos olhos” [1Jo 2,16].
“Não cobiçarás...” [Ex 20,17]. É o Décimo Mandamento da Lei de Deus. Penso que o Evangelho de hoje nos permite fazer uma visita aos Mandamentos da Lei de Deus, particularmente ao último. Eles andam tão esquecidos, ultimamente. Será que a Aliança de Deus é também temporária, descartável? Parece que não! Deus estabeleceu com seu Povo uma Aliança eterna, para sempre. E Ele permanece fiel!
            O Catecismo da Igreja Católica nos lembra de que “o apetite sensível nos faz desejar as coisas agradáveis que não temos”. Enquanto não nos conduzem à injustiça, tudo bem. O problema é quando esse desejo se converte em avidez que é o desejo de apropriação desmedida dos bens terrenos. Ou quando se converte em cupidez que é uma paixão imoderada pelas riquezas e pelo poder. Então o ser humano se desvia da relação filial com Deus.
            Esse Mandamento quer ajudar a lidar com os bens e posses sem apegos desmedidos, sem acúmulos, sem idolatrar dinheiro e coisas. O sábio já dizia: “O avaro jamais se farta de dinheiro” [Eclo 5,9]. E o Apóstolo exortava: “A raiz de todos os males é, de fato, o amor ao dinheiro” [1Tm 6,10].
            Um mal muito presente em nosso meio, fruto da cobiça, é a inveja. É um vício que dá origem a outros. “É a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo imoderado de sua apropriação” [CIC, 2539]. Dela nasce o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria diante da desgraça do outro, o desprazer diante de sua prosperidade. Só uma vida vivida em Deus, num exercício de conversão cotidiana, de um esforço em viver na humildade, na simplicidade, no desapego é que possibilitará o combate a esse mal terrível.
            O que nos pode ajudar no caminho para não cairmos na idolatria do dinheiro é buscarmos uma vida de partilha. É o caminho da felicidade verdadeira. E a Igreja orienta: Todos os fiéis de Cristo “devem dirigir retamente seus afetos, para que, por causa do uso das coisas mundanas e do apego às riquezas contra o espírito da pobreza evangélica, não sejam impedidos na busca da caridade perfeita” [Lumen Gentium, 42].
            É muito oportuno lembrar aquelas palavras de Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração” [Mt, 6,21]. Qual é mesmo o nosso verdadeiro tesouro? Que importância damos aos bens que contam realmente? Como temos administrado o dinheiro, os bens? Como lidamos com o “bolsa família”, com o “seguro desemprego”, com o empréstimo de dinheiro, com a compra e venda de mercadoria, com o cumprimento dos horários de trabalho, com o cuidado com os bens que não são meus, com aqueles que também são meus, com a relação de justiça com funcionários etc, etc?
            Lembramos hoje a vocação ao ministério ordenado: diácono, padre e bispo. Seria bom fazermos, hoje, uma prece pelo nosso pároco, pelos padres que conhecemos, por aqueles que nos marcaram na fé, por aqueles padres que passam por dificuldades tribulações, por aqueles que vivem em situação de risco, de violência, de miséria. E vamos pedir ao Pai que envia padres profetas e santos para sua Igreja.

“NÃO PODEIS SERVIR A DEUS E AO DINHEIRO”

            Recorde um pouquinho a Campanha da Fraternidade de 2010. O uso das coisas deste mundo deve ser de modo que nos torne “ricos para Deus”. O sentido da vida não está na posse de muitos bens, mas na administração deles de tal forma que sejam colocados a serviço de todos. Em outras palavras: os bens deste mundo foram criados para todos. É o princípio da “destinação universal dos bens”.
            Vale a pena, nesta oportunidade, recordar o perigo da chamada ‘teologia da prosperidade’. O que é isso? Uma interpretação de textos aleatórios da Bíblia para defender a ideia de que Deus dá riqueza material a quem ele julga justo. E que a miséria é fruto da falta de fé e da consequente maldição da parte de Deus.
            Ora o que diz Jesus? “A vida do homem não é assegurada pela abundância de bens”. Não há dinheiro que garanta uma vida terrena imperecível, sem sofrimentos, sem morte. Jesus quer que vamos além. A vida que ele veio trazer é “plena”. É a vida junto dele que já tem começo aqui. Uma vida vivida no coração amoroso do Pai é a grande bênção que ninguém pode tirar.
            O entendimento do progresso material, do enriquecimento como bênção e da pobreza como abandono de Deus leva a pessoa à prática da idolatria, assumindo os bens materiais como a coisa mais importante que tem, reduzindo sua relação com Deus a um nível puramente comercial e interesseiro. Afasta-se totalmente do ensinamento de Jesus que doou toda a sua vida e pediu que seguíssemos seu exemplo. Do contrário, do ponto de vista material, Jesus teria sido o homem mais rico e poderoso, que já existira, pois foi sempre fiel ao Pai. O erro aqui está na interpretação egoísta e interesseira.
            É fácil perceber o que é mesmo fundamental na vida humana quando nos deparamos com situações-limite. Aquela pessoa que está muito mal, prestes a morrer. O que parece mais importante para ela? O dinheiro? Seus bens materiais? Até mesmo a família e amigos entendem que há algo aí mais importante do que sua dimensão econômica ou social. Percebe-se aí como é fundamental sua dimensão espiritual, sua relação com Deus Pai criador. Só essa realidade fundante é que lhe poderá dar sustento nesse momento. O que lhe dá conforto agora não são os bens que adquiriu, os negócios feitos com lucro, mas tudo o que ela fez e se tornou amor.
            “Insensato! Essa noite morrerás e para quem ficará o que acumulaste?”A grande bênção de Deus é a nossa capacidade de compartilhar com os irmãos, de nos compadecermos, de doarmos um pouco de nós, de nos fazermos dom. O resto é idolatria e egoísmo geradores de infelicidade para si e para os outros.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN
MANHUMIRIM, MG